quarta-feira, 21 de abril de 2010

O resto a gente entende

















Amigos e amigas

Acabei de chegar de uma viagem de campo. Estive, por quatro dias, juntamente com uma equipe, sondando a fronteira entre o Cerrado e a Caatinga na Bahia, mais precisamente nos municípios de Correntina, Santa Maria da Vitória e Bom Jesus da Lapa. As águas límpidas que vêm da Serra Geral e encontram eco no Chapadão do Oeste baiano trepida por entre granitos expostos, desenhando cenas de limpidez inimagináveis. A cultura, a simplicidade do povo, sua rica vontade de acolhida é compatível com essas águas. Sabem saudar o encontro - essa peça de arte humana.

Mas nos GERAIS o mapa do conflito espelha rochas pontiagudas. Grileiros e gente do agronegócio bota o trator para urrar como se o dinheiro fosse uma causa maior que toda a alegria, que todas as estéticas, que toda limpidez e que toda a vida. E que toda a história natural dessa zona de feições sutis e generosas por onde jagunços ainda usam a mira para conter a luta pela vida.

Fui na sexta-feira da paixão num evento tradicional num CEMITÉRIO DE ROÇA da comunidade de Ponte Velha. As Encomendadeiras de Almas cantam ladainhas aos mortos protegidas por um Cerradão exuberante. Depois, as famílias se reunem, tomam as velas emprestadas dos mortos e fazem uma tremenda festa ali mesmo no cemitério. É comum beber uma cachacinha, contar uma piada, salvar-se no presente por um Cristianismo negro, cheio de comida, lambança boa, festividade amiga.

Marcellon tem razão: conhecemos pouco o Brasil. Assim, conhecemos pouco a nós mesmos. Qualquer tristeza por acaso concebida no meio da estrada, pode ser que deve um pouco a esse descohecimento. Há uma fartura que nos rodeia em meio a uma covardia que é igualmente insistente. É igualmente grande, dura, renhida, recorrente.

Ah, comi doce de buriti enrolado na palha. Bebi água olhando o vento dançar na calda das palmeiras. O resto a gente entende - basta amar.

Abraços

Eguimar Felício Chaveiro*
*Meu orientador de Mestrado. Professor Doutor do Instituto de Estudos Sócio-Ambientais (IESA) da Universidade Federal de Goiás (UFG) em 06/04/2010.