sexta-feira, 11 de junho de 2010

O Cordão da Vida


Em 1991, minha Tia Quinha (Maria Aleixo Caetano) estava voltando da missa, acompanhando minha Vó Virgínia, Tio Zeca e Dona Lindú, uma senhora cega que até hoje, com mais de 100 anos, mora na rua Pedro Guerra em Correntina - Bahia. Tia Quinha foi vítima de uma bala perdida, disparada pelo então delegado da cidade. Ela era a única filha que havia escolhido ficar solteira e cuidar de minha Vó. Esta, com 74 anos de idade, sentiu a morte tão perto que, logo depois do luto, encomendou sua roupa fúnebre e o tradicional Cordão de São Francisco de 7 nós.

O abalo virou lamento e o lamento virou prece. Surpreendentemente, na mesma semana da morte, a prece infantil de meu primo José Aleixo, a partir de uma vela acendida, transformou a parafina na forma de um revólver. Esse fato chamou atenção de milhares de curiosos que, diariamente, visitavam a casa de Vó afim de verificar a veracidade da tal vela. Esse ocorrido mitificou ainda mais a morte de Tia Quinha.



Nessa época eu tinha quase 6 anos e, então, Mainha e Painho resolveram - num ato de afeto - fechar nossa casa, pegar a renca de meninos e mudar para a casa de Vó. Mainha liderou um movimento de vida! Foi o ano mais rico de minha infância... Mainha consolou a sua mãe enchendo a casa de futuro e meninice.

Em janeiro deste ano, vi o corpo de 93 anos de minha Vó deitado sobre sua última cama. Ela estava vestida com sua "roupinha-do-céu" e com o Cordão de São Francisco amarrado à cintura. De repente, Mainha chegou ao meu lado e, subitamente, abracei-a. Choramos de emoção! Percebi que havia chegado a minha vez de consolar a minha mãe. Hoje, ainda sou menino. Mas, já tenho o meu próprio Cordão...


Leandro Caetano