O pensamento platônico e suas influências
Compreendendo a concepção platônica de alma (psyché) como imortal; dotada de razão, vontade e desejo (alma tripartida) e como substância imaterial originária do mundo das idéias, verificamos nessa concepção o reflexo do pensamento de filósofos anteriores.
A partir da tradição da filosofia grega, desde os poemas homéricos, já havia uma inquietação humana acerca da origem e essência da vida. Para o próprio Homero a concepção de corpo e alma era única. Já para os filósofos naturalistas, no período pré-socrático, a origem da psyché está diretamente vinculada aos elementos da natureza (ar, água, fogo e terra). Tales de Mileto considerava a água como elemento fundamental e no qual todas as coisas encontravam seu início e fim. Anáximenes elegeu o ar como elemento fundante de todas as coisas, explicando o processo através sua dilatação e condensação. Assim como eles, outros naturalistas explicaram a alma através do éter e do pó, por exemplo.
Além dessa preocupação materialista da alma, dada pelos outros naturalistas, Heráclito introduziu a noção de consciência na psyché por meio do fogo (logos). Para ele o logos é ilimitado e tem a possibilidade de se expandir. A partir desse pensamento de alma além da matéria encontramos traços que estarão presentes no pensamento platônico. Assim como em Heráclito, em Diógenes e Demócrito também há essa alma dotada de um princípio racional. Para Diógenes, assim como para Anaxímenes, o ar é origem da psyché, mas com a presença da inteligência. Demócrito introduz a teoria atômica e diz que o corpo e a alma são dotados de átomos da mesma natureza material, porém sendo a alma composta por átomos mais sutis e perfeitos. Até então as cosmogonias eram a base para a explicação do mundo e suas origens que, gradativamente, foram sendo substituídas pelas cosmologias e seus princípios racionais. Para que acontecesse esse rompimento total entre o mito e a razão, o papel da alma (psyqué) era imprescindível. Por isso Demócrito, antes de Sócrates, já enfatizava o "cuidado com a alma".
Como discípulo direto de Sócrates, Platão absorveu os princípios básicos de alma que seu mestre defendia. Para Sócrates, a alma é dotada de virtude e deve sempre buscar a verdade, tendo esta como a perfeição. O corpo, em Sócrates é tido como prisão da alma e esta deve superar os vícios, paixões e as distrações provocadas pelos sentidos. Aqui o "cuidado com a alma" é entral e pode ser exemplificado pela tranquilidade do próprio Sócrates diante de sua morte.
A psyché em Platão é tratada em seu pensamento como tendo três partes: racional; irascível e concupiscível. Essa alma tripartida se distribuiria no corpo humano também em três partes, respectivamente: cabeça; peito e baixo ventre correspondendo à razão, vontade e desejo humanos. Em suas abordagens alusivas quanto à alma, Platão também traz a alegoria da classificação da distribuição dela em uma carroagem composta pelo cocheiro (razão), pelo cavalo branco (irascível) e pelo cavalo preto (concupiscível). Nessa concepção alegórica, o encontro da verdade é tratada por Platão como a representação da perfeição. O processo de busca dessa verdade, que está no mundo das idéias, é o que classificaria o destino da encarnação das almas: corpos de homens, para os que alcançaram parte da verdade ou corpos de animais para os que não chegaram até ela.
Assim, o pensamento platônico, no que diz respeito à psyqué, é fortemente influenciado por Sócrates e, alguns filósofos pré-socráticos, porém Platão consegue desvencilhar o corpo da alma criando um lugar exclusivo para elas. E, em sua classificação, o lugar mais perfeito, o Hades, só seria alcançado pelo verdadeiro filósofo.
Rafaela Teixeira Álvares e Leandro Caetano
[acadêmicos do 1º período de Psicologia na UFG, em 07/05/2009]
Obs.: Esse texto, aqui apresentado em íntegra, foi produzido como resposta para a avaliação da disciplina "Filosofia e Psicologia I" ministrada pela profª Drª Rita Márcia M. Furtado.