Certo dia incuti em usar, sistematicamente, meus poderes sensíveis. Isso mesmo! De repente, quando ninguém esperava, cismei em curiar tudo em volta - incluindo os eteceteras que não eram de minha conta. Ouvia os travesseiros acordados, cheirava cada recém-comida e mordia, saborosamente, a pele alheia, às vezes com um leve pretexto de acariciamento. Tudo era realizado mais do que se devia. Nessa fase, já sentia que havia feito uma descoberta metodológica incrível. E, agora, sei que ela, mesmo sendo de caráter pseudoinfantil, foi o cerne do meu primeiro movimento para a realização de uma pesquisa baianocientífica.
A questão principal era saber como os sentidos estavam no meu modo de apreender a realidade. E quem era essa tal realidade? Pra mim ela só se manifestava no exato momento em que mainha me sacudia na cama e dizia: - Acorda meu filho, senão vai chegar atrasado na escolinha! E dentre as poucas coisas que me lembro das matutinas aulas de alfabetização (além do fato de serem matutinas) era das estrelinhas que ganhei algumas vezes por ser um garoto comportado. Dessa fase herdei uma trajetória de estudante-matuto que estendeu-se por boa parte de minha vida escolar.
Deixando os traumas de lado e voltando aos critérios de minha primeira pesquisa, passei a recolher referenciais teóricos por toda parte e, assim, todo adulto que se prezava era digno de uma fonte teórico-metodológica. Era admirável, por exemplo, como minha Vó Santa conseguia fazer a gente comer toda comida no prato, sob a seguinte ameaça: - Se não comer tudinho seus filhos vão nascer remelentos! E eu, mesmo comendo tudo, até hoje tenho medo de ter filhos com eternas conjuntivites... Já Vó Virgínia, um pouco mais estratégica e generosa em distribuições alimentícias, conseguia espalhar frutas vespertinas para toda a renca de netos, usando a seguinte assertiva: - Vai ali, pro canto da casa, e come escondido... Essa aqui já é a derradeira e não vai dar pra todo mundo! E de repente, quando me sentia o mais privilegiado dos meninos pidões, via chegando outros primos no tal “esconderijo” com a faca na mão e a laranja no seio, certos de terem recebido uma das coisas mais raras do mundo.
Pois bem, tendo esses exemplos de poderosos métodos de captação e manipulação da realidade, resolvi continuar minha pesquisa investigando a sensibilidade alheia acerca dos elementos básicos do planeta: Água, Terra, Ar e Fogo.
Mainha, que sempre teve fobia de Água em grande quantidade, recebeu meu primeiro questionamento sobre sua predileção dentro desses elementos. E a resposta foi exata: o FOGO. Logo mainha que era tão calma e serena optou pelo Fogo avassalador que, de acordo com ela, a enfeitiça com suas chamas. Daí entendi o porquê dela ter escolhido painho como o seu esposo. Ele que é o próprio AR em pessoa: leve e imprevisível; com o poderoso dom de alimentar o Fogo e refrescar as cucas (femininas) cheias de preocupações.
Surpreso com minhas primeiras conclusões, continuei investigando sobre a Água e a Terra. E esses são os mais danados. Precisei crescer, mudar-me para Goiânia, cursar Geografia e na labuta da confecção do documentário “Guerra e Paz no Sertão dos Gerais” obtive respostas sobre a Terra. E essa já era uma categoria em disputa no Cerrado baiano. E a Água? Ah! A Água... Essa está infiltrada em minhas veias e nesse momento estou em processo de doação e recepção desse sangue vital, realizando o meu novo documentário e pesquisa “Corrente das Águas: o vale en-Cerrado”. E nesse mergulho conto com vocês, com as laranjas e com os meninos remelentos...
[Leandro Caetano]
A questão principal era saber como os sentidos estavam no meu modo de apreender a realidade. E quem era essa tal realidade? Pra mim ela só se manifestava no exato momento em que mainha me sacudia na cama e dizia: - Acorda meu filho, senão vai chegar atrasado na escolinha! E dentre as poucas coisas que me lembro das matutinas aulas de alfabetização (além do fato de serem matutinas) era das estrelinhas que ganhei algumas vezes por ser um garoto comportado. Dessa fase herdei uma trajetória de estudante-matuto que estendeu-se por boa parte de minha vida escolar.
Deixando os traumas de lado e voltando aos critérios de minha primeira pesquisa, passei a recolher referenciais teóricos por toda parte e, assim, todo adulto que se prezava era digno de uma fonte teórico-metodológica. Era admirável, por exemplo, como minha Vó Santa conseguia fazer a gente comer toda comida no prato, sob a seguinte ameaça: - Se não comer tudinho seus filhos vão nascer remelentos! E eu, mesmo comendo tudo, até hoje tenho medo de ter filhos com eternas conjuntivites... Já Vó Virgínia, um pouco mais estratégica e generosa em distribuições alimentícias, conseguia espalhar frutas vespertinas para toda a renca de netos, usando a seguinte assertiva: - Vai ali, pro canto da casa, e come escondido... Essa aqui já é a derradeira e não vai dar pra todo mundo! E de repente, quando me sentia o mais privilegiado dos meninos pidões, via chegando outros primos no tal “esconderijo” com a faca na mão e a laranja no seio, certos de terem recebido uma das coisas mais raras do mundo.
Pois bem, tendo esses exemplos de poderosos métodos de captação e manipulação da realidade, resolvi continuar minha pesquisa investigando a sensibilidade alheia acerca dos elementos básicos do planeta: Água, Terra, Ar e Fogo.
Mainha, que sempre teve fobia de Água em grande quantidade, recebeu meu primeiro questionamento sobre sua predileção dentro desses elementos. E a resposta foi exata: o FOGO. Logo mainha que era tão calma e serena optou pelo Fogo avassalador que, de acordo com ela, a enfeitiça com suas chamas. Daí entendi o porquê dela ter escolhido painho como o seu esposo. Ele que é o próprio AR em pessoa: leve e imprevisível; com o poderoso dom de alimentar o Fogo e refrescar as cucas (femininas) cheias de preocupações.
Surpreso com minhas primeiras conclusões, continuei investigando sobre a Água e a Terra. E esses são os mais danados. Precisei crescer, mudar-me para Goiânia, cursar Geografia e na labuta da confecção do documentário “Guerra e Paz no Sertão dos Gerais” obtive respostas sobre a Terra. E essa já era uma categoria em disputa no Cerrado baiano. E a Água? Ah! A Água... Essa está infiltrada em minhas veias e nesse momento estou em processo de doação e recepção desse sangue vital, realizando o meu novo documentário e pesquisa “Corrente das Águas: o vale en-Cerrado”. E nesse mergulho conto com vocês, com as laranjas e com os meninos remelentos...
[Leandro Caetano]
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